Quero o seu oposto



Que é difícil quando o amor é interrompido. Ou esgotado até o último beijo. Ou abandonado, largado aos suspiros. Que tentamos. Secamos lágrimas antes que fecundem os olhos. Calamos os escândalos que resultam em um beijo-fantasma. Que a tristeza escancara que Tá tudo indo. Que procuramos outras histórias para invadir. Outras risadas para ensolarar a perspectiva. Ouvidos para nos fazer companhia, enquanto o coração de Janis Joplin é oferecido em pedaços aos gritos falhos de cigarro. No repeat. No repeat. No repeat.
Os dias que seguem são apenas busca. Voltaremos a sentir esses beliscões que atacam órgãos, quando ele passa ou essa anestesia nunca vai passar? A apatia contamina até cerveja preferida, o bar preferido, o livro que relemos todos os anos.
E vamos riscando, chutando, descartando, soterrando aquele olhar que fazíamos, quando ele dançava – um pouco descordenado lembrando a embriaguez que ele sempre soube muito bem expor; as promessas de uma visita a Nova Iorque, para apresentar os esconderijos cheios de jazz e lixo e comidas de rua. E vamos eliminando, pouco a pouco, o que fomos durante aquela noite, dentro de um táxi velho, num bairro perdido da cidade: eternos.
Quando a vida voltar a ter sentido, rejeitaremos qualquer partícula daquelas tardes em que deitávamos juntos na cama para ver televisão. A busca vai mudar o curso, pegar o rumo contrário. Se foi intenso, ressuscitaremos o morno. Se foi diário, agarraremos o esporádico.
Então dele não vamos querer nem mais fotos desfocadas, os bilhetes rasgados. Dele não vamos admitir lembrança. Num esforço de apagá-lo, a única coisa que vamos pedir é um amor oposto. Para que nada. Detalhes. Tiques. Manias. Chatices. Nada traga a presença dele, atormentadora, novamente.

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