Palavras certas

Com as palavras certas faço de um olhar o amanhecer, de um sorriso o enlouquecer e de um instante a eternidade... Assim posso te ter e ao mesmo tempo fazer parte de você...

Meu lugar

Não pense, por favor, que me esqueci de ti. Ou que meu sentimento resolveu tirar férias ou pediu demissão do meu coração. Isso não é verdade. Mas passei por alguns momentos que me fizeram querer, desejar o meu lugar e ver que ele não habita mais o mesmo lugar que o seu.

Mudamos muito, na verdade eu mudei. Deixei de ser aquela menina com visão limitada a um futuro próximo para ser uma mulher - ou quase isso - que pensa e vai um pouquinho mais longe. Mas isso não é novo. Você sempre soube que a partida logo ia chegar. Te pedi para arrumar as coisas, colocar algumas peças de roupa na mala e vir comigo. Você preferiu continuar onde estava. Onde está. Mas este não é o meu lugar e eu segui em frente.

Meu sentimento está por ai... Provavelmente dentro de alguma caixa ainda lacrada, escrita com tinta "[Porão]", mas quem sabe o destino dela seja outro. Acho que ela não cabe mais na minha estante já transbordando de novos planos e realizações que me alcançam a todo momento. Me desculpa. Mas deixe guardado em algum lugar por ai que você foi meu ponto de partida, meu local de chegada mais esperado, meu porto seguro, onde eu guardava tudo de mais bonito que poderia ter e ser - geralmente por você -. Hoje meu lugar é outro, não tem um nome próprio, um sobrenome. Também não é dono de cabelos louros ou morenos que caem sobre os ombros. Não é dono de olhos verdes serenos ou escuros misteriosos. Hoje meu lugar habita em mim. E vou levando, me levando, aonde der.

Composta de Urgências

Sou composta por urgências: Minhas alegrias são intensas; minhas tristezas, absolutas. Me entupo de ausências, me esvazio de excessos. Eu não caibo no estreito, eu só vivo nos extremos. 

Um desabafo qualquer

Ontem me peguei pensando em nós durante aquele meu estado de "não durma que ele vai retornar suas mensagens".. E sabe, você tá me fazendo um bem.. Chega a ser estranho pra mim. Contigo eu fico em paz e ao mesmo tempo fico em guerra com meus instintos de querer te agarrar e não te deixar mais sair dos meus braços e ao mesmo tempo sair correndo com medo do que pode estar acontecendo. Você "tá" me ganhando fácil demais, tenho receio que tudo seja fácil demais, até sua partida. Sei também que estou sendo bobona - como você costuma dizer quando meu sorriso vem acompanhado de rubor só por você soltar um elogio qualquer -, bobona por pensar num remoto fim quando nem chegamos bem ao começo. É que eu sou muito certinha, gosto de entender e ter controle sobre as coisas. Mas com você... ah com você é tão diferente. Que qualquer passo me deixa confusa e desorientada. Você bagunça tudo aqui dentro... Uma bagunça boa. Mas uma bagunça que deixa meu coração de cabeça pra baixo, me deixando de ponta cabeça. Ei, garoto! Só não esquece de arrumar as coisas, caso queira sair algum dia. Até lá vou lutando contra a minha vontade de ficar o tempo todo com você. Você nem sabe, mas eu já te quero!

Quero o seu oposto

Que é difícil quando o amor é interrompido. Ou esgotado até o último beijo. Ou abandonado, largado aos suspiros. Que tentamos. Secamos lágrimas antes que fecundem os olhos. Calamos os escândalos que resultam em um beijo-fantasma. Que a tristeza escancara que Tá tudo indo. Que procuramos outras histórias para invadir. Outras risadas para ensolarar a perspectiva. Ouvidos para nos fazer companhia, enquanto o coração de Janis Joplin é oferecido em pedaços aos gritos falhos de cigarro. No repeat. No repeat. No repeat.

Os dias que seguem são apenas busca. Voltaremos a sentir esses beliscões que atacam órgãos, quando ele passa ou essa anestesia nunca vai passar? A apatia contamina até cerveja preferida, o bar preferido, o livro que relemos todos os anos.

E vamos riscando, chutando, descartando, soterrando aquele olhar que fazíamos, quando ele dançava – um pouco descordenado lembrando a embriaguez que ele sempre soube muito bem expor; as promessas de uma visita a Nova Iorque, para apresentar os esconderijos cheios de jazz e lixo e comidas de rua. E vamos eliminando, pouco a pouco, o que fomos durante aquela noite, dentro de um táxi velho, num bairro perdido da cidade: eternos.

Quando a vida voltar a ter sentido, rejeitaremos qualquer partícula daquelas tardes em que deitávamos juntos na cama para ver televisão. A busca vai mudar o curso, pegar o rumo contrário. Se foi intenso, ressuscitaremos o morno. Se foi diário, agarraremos o esporádico.

Então dele não vamos querer nem mais fotos desfocadas, os bilhetes rasgados. Dele não vamos admitir lembrança. Num esforço de apagá-lo, a única coisa que vamos pedir é um amor oposto. Para que nada. Detalhes. Tiques. Manias. Chatices. Nada traga a presença dele, atormentadora, novamente.

De repente

Eu tinha desistido de algumas coisas. De repente o mundo passou a ficar complicado e eu me perdi de mim, me perdi de tudo e desisti. Antes de desistir eu resisti. Sempre fui meio valente, daquelas que vão até o fim, mesmo que doa, mesmo que seja difícil. Nunca dei bola para o difícil, sempre investi no que eu achava certo e no que meu coração me dizia. Só que uma série de fatores fizeram com que eu desacreditasse em...em tudo!

E então você ligou para me dar boa noite. Achei estranho aquilo, fazia tempo que eu não me sentia cuidada, acho que já tinha esquecido desse tipo de sentimento. E então você me falou "desliga primeiro, as meninas desligam o telefone antes". E eu achei aquilo lindo. E estranho. Percebi que eu não estava mais acostumada com esse tipo de coisa. Percebi, com tristeza, que eu me desacostumei a ser bem tratada. Isso existe? Depois de levar algumas porradas nós acabamos nos tornando mais resistentes. Depois de algumas decepções passamos a não acreditar em tudo o que dizem. Depois de faltar sempre alguma coisa reagimos com estranheza a pequenos gestos bonitos.

Vi que muita coisa aconteceu nesse meio tempo. Naquele momento em que eu me perdi de mim talvez eu tenha perdido um pouco a fé. Fiquei tão "adaptada" aquela vida de não receber, não obter, não e não e não que acabei não sabendo lidar com a infinidade de "sim, sim, sim". Os não aplausos se tornaram frequentes e eu passei a não saber de mais nada.

E então você apareceu me dando boa noite, se preocupando com a minha vida de verdade, sendo gentil, carinhoso, cavalheiro, divertido, educado...e eu percebi que existe muito em mim ainda. Que mereço muito ainda. Que (realmente) eu posso amar alguém ainda. Talvez seja você. A vida vai dizer. De qualquer forma: obrigada por me fazer dormir sorrindo.