Inspiração: Loja de Histórias, Preto no Branco

Já imaginou aquela foto que você tirou, amou e viu algo mais virar uma história? Pois é, agora é possível! Pedrinho Fonseca é o criador da Loja de Histórias e faz isso para você. Lá nada se vende, é tudo por meio de trocas. Sua foto =  um texto ficcional muito bem escrito pelo Pedrinho. 

Pedrinho explica de uma forma bem simples como funciona:
















Quando descobri página da loja no Facebook fiquei encantada. Achei a ideia genial e de uma profundidade linda! Resolvi mostrar aqui no blog o seu trabalho e compartilhar com você um pouquinho desse mundo de ficção e versos soltos muito bem organizados.
Para mais informações acesse o site: Loja de Histórias ou a Página no Facebook.

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Agora um pouquinho do seu trabalho:

Preto no Branco
Foto: Érika de Faria
Preferia quando me ligavas na madrugada, me acordavas para dizer que havias chegado bem, bem bêbada, dizias que me amava, gargalhavas de si própria, bêbada. Bêbada, falavas de algum tombo levado no banheiro – em um bar sujo no centro. Bêbada, aceitastes casar, viemos viver aqui, assim improvisados. Nunca fomos música clássica, mas sempre jazz. Continuavas a beber comigo em bares sujos, outros agora nos socorriam nos banheiros – velhos novos amigos teus. Acordava cedo, beijava teu rosto e ouvia um “vai com Deus” automático. Gostava dos teus sussurros cuidadosos comigo. Gostava do teu barulho pela casa. Passos, cantos, coisas sendo mudadas de lugar. Tu não és mais tão bonita. Nem tão leve. Vou pegar mais uma cerveja.
– Tu queres?
A diferença, aqui está. Tu mesma corrias até a cozinha, voltavas já com duas cervejas nas mãos, pedias para que eu as abrisse e brindávamos, em cada um dos muitos primeiros goles ao longo das nossas noites solitárias. Solidão de dois já é um mundo inteiro. Só nós dois: era tanto. Agora já não és mais aquilo e eu, bem, eu já não sou mais nada, tento me afogar num mar doce de memórias, nado contra essa correnteza fria que passa por dentro de ti, incomoda, silencia. Estás turva. Paraste de cantar, de dançar no nosso piso barulhento de madeira. Não te reconheço, sentada bem à frente, silenciosa, pensativa. Usavas roupas coloridas, usavas menos roupas.
– Joga, Raquel.
Joga, porque na sequência haverá um xeque-mate e iremos, enfim, fazer as pazes do jeito que sempre gostamos de fazer e isso que sinto, quem sabe, morrerá.

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