A paixão acontece

Arte: Marc Chagall

Se você recusou sua rotina, deixou de fazer aquilo que mais gostava em nome de alguém, torrou seus bens, abandonou os amigos e os prazeres mais fundamentais, isso não é amor, é paixão.
A paixão é uma fatalidade, o amor é uma escolha.
A paixão é egoísta, o amor é generoso.
A paixão é renúncia, o amor é recomeço.
A paixão arrebenta, o amor adapta.
A paixão é confinamento, o amor é abrigo.
Não há paixão pequena, paixão simbólica, paixão discreta: é grandiosa no início e escandalosa no final.
Não recomendo, muito menos desaconselho: é experiência para os fortes.
Nada do que viveu antes terá sentido, nada do que possa viver depois terá sentido. Conjugará interminavelmente o presente do indicativo.
Atingirá um extremo emocional perigoso: você passa a ser do outro em tempo integral. Conhecerá sua pior crise de nervos, seu mais fundo estresse emocional, seu mais absurdo esgotamento da memória, sua mais humilhante falência financeira.
Uma vez apaixonado, você rejuvenesce 10 anos em 10 horas. Mas, uma vez desapaixonado, você envelhece 10 anos em 10 horas.
A paixão ou é imensa, ou não é. Ela não pede desculpa, não negocia: equivale a uma dependência química em seu estado mais selvagem.
É o equivalente ao sequestro de uma vida. A própria vida. Você é o sequestrador e o refém ao mesmo tempo.
Não há desconto, adiamentos, pechincha. A paixão exige pagamento à vista, execução sumária.
Nunca vi nenhum apaixonado transferir compromisso para o dia seguinte, ele somente antecipa.
Não é que a paixão seja rápida, é devastadora, não sobra coisa alguma para continuar.
O apaixonado não abre negócios, mas fecha portas. Não areja a cabeça, não tem grandes ideias, não combate preconceitos, emburrece progressivamente, a ponto de só ter um número para ligar e um lugar para ir.
Ele não tem sangue-frio, não raciocina, não elabora planos, não arruma álibis.
A paixão é um crime malfeito, facilmente descoberto.
Os envolvidos desprezam o mundo, não se importam se estão sendo vistos, se beijam em público, se são casados, noivos ou recém-viúvos, se serão criticados pelos vizinhos e familiares.
O apaixonado joga tudo para o alto e não fica para segurar nada.
Ele não tem discernimento, não lê jornal, perde sua capacidade de decidir sobre a trajetória. Apresenta a superstição de um velho, a intuição de uma criança.
É um idiota sábio. Idiota porque não se defende da tristeza, sábio porque não se protege da alegria.
Não existe mais bom e ruim, certo e errado, esquerda e direita. Não tem sentido julgar. Não tem como se orgulhar do que foi realizado, muito menos se arrepender.
Você muda de personalidade, larga trabalho, descuida da família para se dedicar inteiramente a não pensar e somente sentir.
Não podemos nem dizer se a paixão ajuda ou atrapalha, ela acontece. É uma sorte azarada.

Questão de Paz


Tem amor que é para sempre porque não sabemos terminar as coisas em paz. Tem poema que é longo porque não sabemos terminar as coisas em paz. Tem vida que é curta porque não sabemos terminar as coisas em paz.

Uma canção sobre amor ... em Stop[e]Motion

Acho que todos já perceberam que eu adoro a Clarice Falcão, ne?! Então.. Perambulando pelo youtube, procurando mais vídeos dela.. Achei esse vídeo mega fofo! Assistam, vale a pena.

É você


Não é a acusação infame dos meus dias de mau-humor chutando baldes adoidada. É a mão que se aproxima terna e amigável devagarinho por cima da minha durante o almoço de domingo. Não é o medo de um pesadelo que me faça quase implorar pra me acompanhar até o banheiro escuro para fazer xixi de madrugada. É o aceitar de dividir uma mesma cama no inverno mesmo correndo o risco de ter de deixar o cobertor quentinho para realizar o pequeno ato heróico de me proteger dos espíritos do filme de terror. Não é a impaciência pra esperar minha preguiça dar uma brecha e me dar coragem pra levantar de manhã. É o beijinho de "bom dia" risonho e a pergunta do "quer que eu te faça um café?" mesmo após eu ter acabado com as suas chances de uma futura esposa pró-ativa logo pela manhã. Não são as olheiras diárias por acompanhar comigo meus horários de dormir-tarde-acordar-cedo. É a demonstração irrevogalmente sincera da alegria que é presenciar minha rotina.
Não é o quase acúmulo de mofo por perder um domingo inteiro tomando bebidas quentes deitados por boa parte do tempo com a chuva pendente da semana inteira caindo lá fora. É ganhar o dia todinho por dividir as sobras do jantar inesquecível da noite anterior e transformar a simplicidade em banquete - puramente por acreditar que divisão é matéria de nobreza. Não é o dia terrível que me faz resfriar e ser tomada por uma fonte inesgotável de lenços de papel por todo canto. É você me comprando remédio e fazendo compras para minha casa mesmo no frio do cão que é esta cidade desde os primeiros dias de inverno. Não é o egoísmo de nunca querer sair debaixo da água quentinha do chuveiro. É te ver cuidando do meu resfriado como um pai de primeira viagem, mesmo estando doente também. E aí eu já consigo te ver daqui a uns dez anos cuidando dos nossos filhos com a maior corujice já registrada no mundo. Te vejo embrulhando a menina na toalha depois do banho e fazendo o pão do café da manhã que o menino vai tomar antes da aula. E você ensinando a jogar futebol e a torcer para o Atlético como a glória maior passada de geração em geração. Te vejo desajeitado arrumando o cabelinho cacheado da menina que é o xodózinho do pai. E por toda essa visão do futuro já vale a pena tentar ser cada dia mais para você.
Não é o atraso que nos força a sair correndo para os compromissos. São os tão preciosos cinco minutinhos a mais olhando bem dentro dos seus olhos e não desejando mais nada além disso no mundo. Não é o seu medo de alguma coisa dar errado. É a dedicação em me preparar pequenas surpresas para me conquistar todos os dias como na primeira vez. Não é o susto que eu passo a cada vez que te sinto estranho por um ciúme bobo. É amar a cada vez que eu encontro minha escova de dentes já preparada com a pasta me esperando em cima da pia. E por certas vezes também uma mensagem de pasta de dente no espelhinho do banheiro, que me lembra sempre o quanto é bom te ter na minha vida. Não é o tempo apertado, não são as tarefas domésticas que sufocam o dia. É ver o seu esforço em me ajudar em tudo pra gente poder se curtir sem permitir que o tempo passe quando chegar à noitinha. Não é por causa do vazamento do registro da torneira que me tira a calma. É a sua paciência de encontrar a peça substituta pra deixar tudo perfeito para mim. Não é o café servido no copo ao invés da caneca. É a divisão do vinho que você comprou ao meu gosto para me deixar feliz. Não é a mania de vidrar na frente de um jogo de homens disputando uma bola e um gol. É o costume de olhar pro céu noturno e sempre me falar para lembrar de enxergar a lua bonita que sorri para nós às onze da noite quando o cansaço toma corpo. Não é a teimosia de sair mal agasalhado em dias frios. É o cuidado em me cobrir de noite para que eu não sinta frio. Não é a mania de esquecer a aliança na beirada da janela depois de mexer com água. É a renovação sempre inesperada e linda quase semanal do pedido de namoro de que você tanto gosta. Não é o sono que te faz dormir no sofá. É o companheirismo de, mesmo caindo de sono, esperar meu esmalte secar para ir dormir depois.
É o toque sutil e quentinho das suas mãos, é confiar nas minhas mãos para fazer a sua barba, é a delícia de se deixar descançar com a cabeça deitada enclinada no meu peito depois de um dia inteiro. São as frutas picadinhas de manhã, é a divisão de um mesmo prato, e a risada divertida ao me ver almoçando de colher. É o amor pelos meus amigos, é a acolhida na sua casa, é me dar seus chinelos e ficar sem para eu não andar descalça. É me querer por inteira, mesmo preguiçosa, meio sincera demais e por vezes meio mesquinha também. É o me amar mais do que cabe no seu peito, o me abraçar como se não me visse há uma semana e o gostar do meu cabelo mesmo quando está embolado. É o carinho de segurar minha mão, de correr atrás de mim na rua como se voltássemos à infância e o se esconder atrás da árvore fingindo que já entrou em casa e me deixou para trás. É me carregar nas costas e me pegar no colo quando eu estou ruim. É elogiar a maneira como eu me visto, me acompanhar nas compras e fingir que ainda não cansou de andar pelas lojas até eu cansar também. É fazer café para mim e armar pegadinhas pra minha irmã. É considerar minha família como sua e ficar feliz de me ouvir pedindo no pé do ouvido pra morar comigo. É sentir o coração pular e se emocionar por ler um texto meu. É estar comigo mesmo que fisicamente se torne impossível. É escrever meu nome na janela embaçada só para se ver surpreso quando encontrar as letras outro dia, quando olhe pra ela de bobeira. É ser louco, apaixonado e prometer uma vida doce. É pensar a dois e não deixar que ninguém imponha solidão nisso. É amar a conversa, o formato da boca, os olhos, o rosto, o sorriso, o tamanho das mãos e a cor do esmalte da semana. É me amar infinitamente todos os dias deixando farelos de perdão e compreensão pelo caminho. É ser incrivelmente doce mesmo que a vida lhe imponha o amargo. Só você sabe como ser você, só você mexe fundo dentro de mim. Só você sabe como fazer eu me apaixonar e ter a certeza de desejar um único homem todos os dias da minha vida.

É verdade?

Ouvi da boca de terceiros que você agora é feliz, mas será que é mesmo? Eu questiono a sua felicidade, eu duvido que você esteja tão feliz - muita felicidade por fora é sinal de grande tristeza por dentro.

E que desperdício


Você acha tão inteligente não amar. Eu acho um desperdício.

Não havíamos marcado hora


... não havíamos marcado lugar. E, na infinita possibilidade de lugares, na infinita possibilidade de tempos, nossos tempos e nossos lugares coincidiram. E deu-se o encontro.

Contigo, contido


Guardo. Sinto. Vivo. Sei. Sou. Eu sei, sei do que eu não sei sobre você. Qual é a sua nova roupa preferida? Qual blusa você veste quando sente frio? Para quem você conta o que não conta mais para mim? Em quem você pensa enquanto eu penso em você? O que você pensa quando lembra que eu não te esqueci? Como você ignora por aí saber que eu ainda te sinto por aqui? O que você tem feito da sua vida além de fazer falta na minha? Sei que talvez seja um problema eu me perguntar tudo isto, não só porque eu continuo me perguntando o que você deveria responder, mas, mais do que isso, um problema porque ninguém entende. As pessoas entendem e até apoiam quando você conta que beijou dez em uma só festa na noite anterior, mas se assustam e te recriminam quando você conta que na noite anterior, e em todas as outras dos últimos anos, você passou pensando em alguém que ama, ama e não tem. Você ouve a todo momento que todo amor tem fim e não sabe se lamenta ou se comemora ser uma exceção. Então você aprende a disfarçar e fingir que passou. Dizendo mil vezes que ama alguém este alguém passa a te amar também? Dizendo mil vezes que não ama mais alguém este alguém é esquecido? Só sei que ando deixando de dizer muita coisa, pois as pessoas ao meu redor já se cansaram de me ouvir dizer, ainda que eu precise dizer. Quando a gente não vive um amor a gente precisa falar de amor para não morrer por dentro. E dói tudo que eu não tenho te falado, pois me acharia (mais) louco. Quando o assunto é contigo, contido estou. Sentimentos calados, vontades camufladas enquanto você já tem alguém que te faz se sentir como você me faz. Para que dizer que eu seria ainda mais feliz se eu pudesse dividir meus dias com você? Seria como dar uma música a quem já possui o CD inteiro. Então, fica o amor guardado. E amar assim é como ser o melhor presente e não ter nunca a oportunidade de ser aberto, cantar a mais linda canção sem ter voz para alguém te ouvir, encontrar todos os sinais verdes e continuar parado por não saber para onde seguir, sentir uma alegria que estranhamente causa um vazio, uma tristeza que traz o desejo por um dia nunca ter conhecido alguém. Você não sabe como é viver tendo que mostrar que você consegue esconder, que o que você sente é não sentir mais nada. Assim, eu me afasto. Não é engraçado como às vezes a distância pode nos aproximar, estar longe pode te deixar ainda mais perto do que você sente. É que o que os olhos não vêem o coração projeta em alta definição, fazendo arder tudo que eu tento esquecer. O que guardo é porque o que mais quero não é dizer "eu te amo", mas é poder afirmar com todas as letras, espaços e a devida pontuação "você me ama!". É o meu sonho contido, contigo. Guardo você. Sinto saudade. Vivo tentando. Sei não mais saber. Sou um intervalo entre "eu" e "nós", "só" e "seu". Acredite, meu nome é "Espera" e o meu sobrenome é "Sou eu que vai te fazer feliz". É só chamar.

Não existe paciência


Pode confiar na mulher que nunca joga fora o xampu quando termina. Porque nunca acha que termina.

São vários potes no box do banheiro. Uma milícia de cheiros. A maior parte com um resto luminoso. Alguns virados para facilitar a saída desesperada da fragrância. Um homem, diante daquela lágrima de cisne, não teria piedade e colocaria no lixo. Não sem razão. É uma sobra simbólica que apenas se mexeria colocando água. Uma massa imóvel, que mal treme. O conteúdo não presta nem para dois enxágues. Para chorar um pouco no pulso, depende de tapas na bunda do pote. Todo xampu velho é um bebê nascendo.
Mas ela não descarta. Pensa que aquilo que não perfuma seus cabelos é ainda capaz de perfumar suas mãos. Permanece com a esperança de que um dia terá uma emergência e ele será útil. Para seus olhos, nada está inteiramente morto, nada está inteiramente esgotado. Contribuem para sua crença as brincadeiras de faz de conta na infância, a sopa de folhas e o refrigerante de terra. Não depende de muito para seguir vivendo, pede um mínimo de realidade; acostumada a sempre completar por sua conta. Não existe paciência, somente fé. Mais da metade de um marido bom é imaginação feminina.
A mulher que não joga o xampu fora não jogará nenhum homem fora. A menos que ele esteja seco por dentro, acabado, sem nenhuma emoção para oferecer, consumido pelo silêncio da esponja. Ela eliminará o sujeito de sua vida após várias tentativas, até se convencer de que ele não rende nem mais espuma. Nem mais passado.
O que me leva a concluir que quem pensa demais não faz, não se arrisca, não se entrega. O pré-requisito é criado para impedir que mudanças aconteçam. É necessário ser imaturo para amar. É necessário ser imaturo para engravidar. É necessário ser imaturo para juntar as tralhas e pertences, construir uma casa em comum, e seguir ameaçado pelo humor do próximo.
Merece o amor quem trabalha por ele, quem sofre por ele, quem não quis ser mais inteligente do que sensível, quem é absolutamente idiota para sacudir um pote de xampu já findo.

Cada vez que abraçava você ...


(...) o mundo parava de rodar por um segundo.

Saudade de Nós

Eu sei que nada vai voltar a ser como era antes. Sinto um pouco de saudade de nós. Era tudo simples, era como um sorriso solto, franco, desinibido. Não posso ter me enganado tanto. Mas, sabe, acho que se a coisa fosse mesmo para valer você ainda estaria aqui, em mim. Se fosse mesmo verdade eu ainda estaria viva aí dentro de você. 
Alguma coisa se partiu, de alguma forma nos perdemos. Não sei se ainda há tempo de recomeçar de onde paramos, de voltar atrás, de pegar a sua mão e fingir que nada aconteceu. E quer saber? Não sei se tenho força ou vontade. 
Às vezes, o melhor que a gente tem a fazer é deixar pra lá, deixar esse tal de destino se manifestar, assumir a direção e tomar conta da nossa vida. Torço para que ele faça o melhor. Torço pelo nosso bem.

Até o Fim


Não sei direito como te falar isso, mas vou me esforçar para ser o mais natural, sincera e prática possível. Quero dizer que é um esforço terrível, já que de prática não tenho nada. Tudo eu questiono, reflito, pondero. Gostaria de ser mais ágil no pensamento, mais certeira nas ações e, também, mais racional. É muito cansativo viver na corda bamba dos sentimentos.

As pessoas nos escondem o jogo, só mostram o lado colorido das relações. Me desculpe, acho que me expressei mal. Elas até mostram o lado preto e branco, as diferenças, as dificuldades. Mas tudo acaba no “e foram felizes para sempre”. Não é justo com você. Assim como não é justo comigo.

Estou exagerando? Por favor, observe alguns livros, filmes e novelas. Os casais passam por uma série de desencontros e provações. No final, “abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim”. Tudo acaba em pizza, em casamento, em filho, em viagem. Na vida real nem sempre as coisas acabam bem desse jeito bonito de ler e ver.

A família da moça não aceita a família do moço porque ele é pobre. O ex atrapalha a vida da mocinha e inferniza o mocinho. O coitado do moço tem uma doença grave. É sempre assim. Mas lá no finzinho tudo fica bem, todo mundo fica feliz e contente.

A vida que eu vivo não tem último capítulo. É uma coisa nova a cada dia. Não tem último episódio para tudo se desenrolar. Não tem última temporada. Não tem nada disso. Eu não sei quando as coisas vão terminar, por isso vivo o hoje da melhor forma que consigo. Mas é bem verdade que não consigo fazer tudo (quem consegue?).

Acho um desserviço essa coisa de final feliz. Primeiro, porque a gente não sabe quando é o final. Segundo, porque felicidade instantânea e eterna não existe em uma vida a dois. Lá na novela que você assiste confortavelmente no sofá de casa, a protagonista e o “esse cara sou eu” se desencontraram, mas logo se ajeitam e vão ser felizes “ad infinitum”. Ele não tem bafo, não deixa a tampa do vaso levantada, não esquece a toalha molhada na cama, não deixa o tênis na sala, nunca está cansado demais, não se atrasa, não viaja, sempre presta atenção no que ela diz, não tem defeito, não tem mania, não tem personalidade forte, não é genioso, é um príncipe encantado irreal. O relacionamento deles nunca é monótono, não tem rotina, não tem briga, não tem discussão, não tem cara feia, não tem diferença, não tem descompasso. Eles se dão bem na cama, na mesa e no banho. Todo santo dia. Ela sempre goza, ele sempre tem vontade, ela lava, passa, cozinha, bate um bolo, se perfuma, malha e sorri. Tudo nos trinques.

Nenhuma relação é fácil e simples. É interessante, todo mundo quer alguém. Mas ninguém percebe que muito mais difícil do que conseguir esse alguém é manter o relacionamento sadio e forte. As pessoas se preocupam com o começo e com o final. Mas o meio, que é aquilo que a gente vive no dia a dia, fica esquecido, jogado em alguma caixa de papelão pegando pó e juntando mofo. É por isso que as coisas terminam. Quer saber? O meio é o que mais importa. É o que merece atenção, cuidado. Até o fim.

Melhor morrer sob as cobertas do que viver sem ter-te descoberto

Foto: Andi Pereira

 Preciso te contar o que vai nos acontecer de hoje em diante, e até o fim. Assim será, ouça. Vamos acordar e a cidade estará devastada, escombros dessa guerra maldita, não haverá água, nem pão. Estaremos destinados ao devastamento, primeiro do corpo, sucumbindo às faltas de tudo o que nos alimenta. Em seguida virá o desmantelo da alma, quando nossos pensamentos começam a sabotar o que temos de melhor e nos presenteia com dúvidas, que não cicatrizam, dúvidas não cicatrizam, nunca. Já com o corpo e a alma em decomposição, nos olharemos sem nada do que temos hoje. Espelhos vazios, colocados frente a frente. E a este dia, o reconheceremos facilmente, estaremos loucos, completamente loucos. Nos restará uma única chance. Isso que temos aqui, olhe, não olhe, não acorde, não se mexa, ouça apenas. Isso que temos aqui. Sei que gostas de dormir mais um pouco, de água com bastante gelo, de deixar a tv em qualquer canal enquanto pensa em outra coisa, em olhar escondido as mensagens que recebo no celular, em falar com sua mãe e seu pai por horas, da comida que faço, do banho muito quente e demorado, de viagens longas, estradas longas, pois também gostas da música que toca enquanto silenciamos fingindo contemplar a paisagem mas estamos simplesmente fazendo planos para o futuro, o nosso futuro, sei que queres adotar um filho, que tenha a minha tranquilidade e a sua vontade, que ele cresça saudável, que seja independente, que conheça Berlim assim que puder, que morar no campo é uma opção, mas não para essa vida, damos risadas disso o tempo inteiro, tu e os teus refúgios no campo. Mas entendo o signo. Sei que teu desejo é sair e buscar um outro refúgio. Que pensas na nossa segurança, na nossa vida e penso também, mas não quero mover-me se for um perigo. Melhor morrer sob as cobertas do que viver sem ter-te descoberto por completo. Te amo, como te amo, estarei aqui, estou aqui, sempre estive, obrigado, obrigado, te amo. Sei que teu desejo é sair e buscar um outro refúgio, amor. Pois ouça, quero que saibas que vou ser o teu refúgio por quanto tempo essa guerra maldita lá fora continuar, mesmo que não tenhamos água, nem pão. Nosso corpo pode até desistir, mas a minha alma cuidará para que a tua alma esteja sempre assim, serena, descansada, em paz.


Desejo


Ah, como eu queria que o vento levasse nossas asperezas, nossos ruídos, nossas palavras duras. E que nosso coração não empilhasse uma mágoa em cima da outra. E que a gente cicatrizasse rápido. E que as cicatrizes se transformem em marcas bonitas.

Inspiração: Loja de Histórias, Preto no Branco

Já imaginou aquela foto que você tirou, amou e viu algo mais virar uma história? Pois é, agora é possível! Pedrinho Fonseca é o criador da Loja de Histórias e faz isso para você. Lá nada se vende, é tudo por meio de trocas. Sua foto =  um texto ficcional muito bem escrito pelo Pedrinho. 

Pedrinho explica de uma forma bem simples como funciona:
















Quando descobri página da loja no Facebook fiquei encantada. Achei a ideia genial e de uma profundidade linda! Resolvi mostrar aqui no blog o seu trabalho e compartilhar com você um pouquinho desse mundo de ficção e versos soltos muito bem organizados.
Para mais informações acesse o site: Loja de Histórias ou a Página no Facebook.

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Agora um pouquinho do seu trabalho:

Preto no Branco
Foto: Érika de Faria
Preferia quando me ligavas na madrugada, me acordavas para dizer que havias chegado bem, bem bêbada, dizias que me amava, gargalhavas de si própria, bêbada. Bêbada, falavas de algum tombo levado no banheiro – em um bar sujo no centro. Bêbada, aceitastes casar, viemos viver aqui, assim improvisados. Nunca fomos música clássica, mas sempre jazz. Continuavas a beber comigo em bares sujos, outros agora nos socorriam nos banheiros – velhos novos amigos teus. Acordava cedo, beijava teu rosto e ouvia um “vai com Deus” automático. Gostava dos teus sussurros cuidadosos comigo. Gostava do teu barulho pela casa. Passos, cantos, coisas sendo mudadas de lugar. Tu não és mais tão bonita. Nem tão leve. Vou pegar mais uma cerveja.
– Tu queres?
A diferença, aqui está. Tu mesma corrias até a cozinha, voltavas já com duas cervejas nas mãos, pedias para que eu as abrisse e brindávamos, em cada um dos muitos primeiros goles ao longo das nossas noites solitárias. Solidão de dois já é um mundo inteiro. Só nós dois: era tanto. Agora já não és mais aquilo e eu, bem, eu já não sou mais nada, tento me afogar num mar doce de memórias, nado contra essa correnteza fria que passa por dentro de ti, incomoda, silencia. Estás turva. Paraste de cantar, de dançar no nosso piso barulhento de madeira. Não te reconheço, sentada bem à frente, silenciosa, pensativa. Usavas roupas coloridas, usavas menos roupas.
– Joga, Raquel.
Joga, porque na sequência haverá um xeque-mate e iremos, enfim, fazer as pazes do jeito que sempre gostamos de fazer e isso que sinto, quem sabe, morrerá.

Minha ausência e a saudade

Um bom tempo longe.. É, eu sei. Senti saudades! Devo uma resposta a vocês.. Foi um momento meio turbulento da minha vida. Duas das minhas cachorrinhas ficaram doentes, uma faleceu. Fiquei muito triste, dei a louca e saí para procurar algo para mudar o foco e, de certo modo, quebrar minhas barreiras. Comecei a trabalhar em uma loja como temporária, conheci pessoas, derrubei meus receios, construí amizades. Hoje tô mais ou menos. Feliz. Com saudades. Com um aperto no coração. 
Mas de volta. Bom, peço desculpas a todos que gostam e acompanham o blog. E espero que continuemos juntos por esse amor a literatura.
Bem vindos  de volta.

Não Perca Seu Tempo Comigo



Verdade seja dita. Eu não sou como você esperava. Eu não sou uma loira-barbie pra te acompanhar nas festas jet-setters que você frequenta  Eu não tenho um par de peitos de 300ml de silicone em cada um. Não tenho uma bunda de 102cm de diâmetro como a da Juliana Paes. Eu sou muito mais do que você espera. Muito mais do que você aguentaria. E talvez até mais do que você merece.
Porque eu sou fiel aos meus sentimentos. Vou estar com você quando eu realmente quiser estar. Vou te ligar quando eu quiser falar com você. Porque eu não passo vontade. E nem vou passar vontade de você. Não vou fazer joguinho. Eu me entrego mesmo. Assim. Na lata. Eu abro meu coração. Rasgo o verbo. Me dou em prosa. E se te disser que não te quero, meu olhar vai me desmentir na tua frente. Porque eu falo antes de pensar. Eu falo até sem sequer pensar. Eu penso falando. E se estou com você, aí, não penso duas vezes. Não penso em nada. Não quero mais nada.

Então, não perca seu tempo comigo. Eu não sou um corpo que você achou na noite. Eu não sou uma boca que precisa ser beijada por outra qualquer. Eu não preciso do seu dinheiro. Muito menos do seu carro. Mas, talvez, eu precise dos seus braços fortes. Das suas mãos quentes. Do seu colo pra eu me deitar. Do seu conselho quando meu lado menina não souber o que fazer do meu futuro. Eu não vou te pedir nada. Não vou te cobrar aquilo que você não pode me dar. Mas uma coisa, eu exijo. Quando estiver comigo, seja todo você. Corpo e alma. Às vezes, mais alma. Às vezes, mais corpo. Mas, por favor, não me apareça pela metade. Não me venha com falsas promessas. Eu não me iludo com presentes caros. Não, eu não estou à venda. Eu não quero saber onde você mora. Desde que você saiba o caminho da minha casa. Eu não quero saber quanto você ganha. Quero saber se ganha o dia quando está comigo.

Você não vai me ver mentir. Desista. Mentiria sobre a cor do meu cabelo. Sobre minha altura. Até sobre meus planos para o futuro. Mas não vou mentir sobre o que eu sinto. Nem sob tortura. Posso mentir sobre minha noite anterior. Sobre minha viagem inesquecível. Mas não aguentaria mentir sobre você por um segundo. Não na sua cara. Mentiria pras minhas amigas sobre a sua beleza. Diria que tem corpo de atleta e um quê de Don Juan (mesmo sabendo que elas iriam descobrir a farsa depois). Mas não me faça mentir e dizer que não te quero. Que eu não estou na sua. Não me obrigue a jogar. Não me obrigue a dizer “não” quando eu quiser dizer “sim”. Não me faça tirar você da minha vida porque meu coração ainda acelera quando você me liga.

Insisto. Não perca seu tempo comigo. Porque eu não quero entrar no seu carro se não puder entrar na sua vida. Não me conte seu passado se eu não puder viver seu presente. Não faça planos comigo se não me incluir no seu futuro. Não me apresente seus amigos se, amanhã, vou virar só mais uma. Me poupe do trabalho de adivinhar seus pensamentos. Diga que me quer apenas quando for verdade. Diga que está com saudade apenas se sentir minha falta do seu lado. Peça minha companhia quando não desejar só meu corpo. Me ligue quando tiver algo pra dizer. Mas, por favor, me desligue quando não estiver mais afim de mim.