Não Se Come Uma Mulher

Já ouvi muito que sexo não é seguir a
cabeça e deixar as coisas acontecerem. Sexo seria não pensar. Não
concordo, sexo não é inconseqüência, é conseqüência da gentileza.
Conseqüência de ouvir o sussurro, de ser educado com o sussurro e
permanecer sussurrando. Perder o pudor, não perder o respeito. Perder a
timidez, não perder o cuidado.
Sexo é pensar, como que não?
E fazer o corpo entender a pronúncia mais do que compreender a
palavra. Como se não houvesse outra chance de ser feliz. Não a
derradeira chance, e sim a chance.
Uma mulher está sempre
iniciando o seu corpo. Cada noite é um outro início. Cada noite é um
outro homem ainda que seja o mesmo. Não se transa com uma mulher pela
repetição. Seu prazer não está aprendendo a ler. Seu prazer escreve — e
nem sempre num idioma conhecido.
Ela pode ficar excitada com
uma frase. Não é colocando de repente a mão na coxa. Ela pode ficar
excitada com uma música ou com uma expressão do rosto. Não é colocando a
mão na sua blusa. Mulher é hesitação, é véspera, é apuro do ouvido.
Antever que aquelas costas evoluem nas mãos como um giz de cera.
Reparar que a boca incha com os beijos, que o pescoço não tem linha
divisória com os seios, que a cintura é uma escada em espiral.
É comum o homem, ao encontrar sua satisfação, recorrer a uma fórmula.
Depois de sucesso na intimidade, acredita que toda mulher terá igual
cartografia, igual trepidação. Se mordiscar os mamilos deu certo com
uma, lá vai ele tentar de novo no futuro. Se brincou de chamá-la de
puta, repete a fantasia interminavelmente. Assim o homem não vê a
mulher, vê as mulheres e escurece a nudez junto do quarto.
Amar não é uma regra, e sim onde a regra se quebra.
Não se come uma mulher, ela é que se devora.
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Obs: Texto e imagem retirados da Fanpage oficial Fabrício Carpinejar
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