“Eu te amo.” É isso que deseja ouvir? Então repito: “Eu te amo!” Está
contente agora? Se quiser eu grito na frente de todo o pessoal do
escritório, quer? “EU TE AMO!” Mais alto? “EU TE AMO, PORRA!”
É isso que espera de mim? Um homem incapaz de desligar o telefone sem
dizer “Eu também te amo”. Acha que amar é isso? Pensa que não há prova
de amor maior do que essas míseras palavrinhas repetidas até a exaustão
de sentido? Desculpe a demasiada sinceridade, mas você precisa prestar
mais atenção nos meus atos, perceber que me calo só para respeitar sua
ânsia de falar, reparar que meus olhos estão sempre focados nas curvas
do seu corpo, enxergar o quanto eu sofro quando você chora e notar a
força que faço para segurar as lágrimas enquanto você sente dor.
Você precisa parar de perder tempo esperando por declarações de amor
Hollywoodianas e aí então começará a entender as inúmeras ações simples
que demonstram o quanto eu sou completamente maluco por você.
Só assim valorizará a paciência que tive quando você estava
totalmente possuída pelo espírito maligno da TPM e injustamente me
acusou de ser a causa de todos os problemas existentes na humanidade.
Para saber o que realmente sinto, você precisa relembrar dos dias que
me pintei de palhaço só para tentar te alegrar, enquanto todo o mundo
parecia não ter a menor graça – mesmo não sendo comediante, tomei muitas
tortadas na cara pra conseguir uma gargalhada sua. Será que não
percebe?
Você precisa saber que visto o avental de cozinheiro só pelo imenso
prazer de te ver sorrindo satisfeita. Torço calado para acertar de novo o
prato do risoto que aprendi a fazer somente para te agradar. Eu não
gosto de cozinhar. Quando estou sozinho em casa, prefiro comer comida
velha ou pedir pizza, mas só por você meto a mão na massa, na farinha e
até no fogo se precisar.

Você precisa entender que só por você eu tenho forças para enfrentar
meus medos, para então ser capaz de manter minha mão firme, controlar
meus tremores e com isso, te transmitir a coragem necessária para que
você possa atravessar as mais violentas turbulências.
Eu carrego as suas malas, sinto no meu peito as suas dores, dirijo de
madrugada enquanto dorme tranquila e sonha no banco de passageiros,
espero horas até você decidir seu vestido, no restaurante te dou meu
prato quando não gosta do seu, enfim, faço tudo isso para perceber o
quanto eu te amo, mesmo quando eu não digo nada.
Por isso minha ilustre leitora, se você é uma daquelas mulheres que
não desliga o telefone enquanto não ouve o famoso “eu te amo”, informo
que você está totalmente vulnerável as mais simples técnicas de
manipulação verbal, pois qualquer canalha com barba por fazer, robô
programado para fingir e papagaio treinado para repetir, poderá
facilmente desferir essas palavrinhas mágicas e potencialmente
afrouxadoras de sutiãs. Quer saber mesmo o que eu acho? O “eu te amo” é
mera formalidade, é apenas uma expressão opcional e até dispensável em
um relacionamento no qual o amor é verdadeiramente provado através da
compreensão, do compartilhamento e até do silêncio.
Talvez o segredo esteja mesmo em não procurar homens capazes de dizer
“eu te amo” em várias línguas, mas buscar os machos que consigam dizer
essa mesma expressão sem precisar abrir a boca.
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